Como surgem as emoções na primeira infância | Por: Paula Bilton (Psicóloga)

Quando o bebê nasce a sua forma de comunicação é o choro. Ele chora por sono, por fome, por incômodos e porque quer contato, carinho e amor. Por isso digo aos pais, o choro não deve ser algo que incomode, ele é a forma da criança se manifestar no mundo e ele vai acontecer (nós querendo ou não). Temos que lembrar que o funcionamento do bebê é primitivo, então, tudo está em desenvolvimento principalmente o cérebro da criança em conjunto com suas emoções.

A emoção pode ser “definida como uma condição complexa e momentânea que surge em experiências de caráter afetivo, provocando alterações em várias áreas do funcionamento psicológico e fisiológico, preparando o indivíduo para a ação” (Miguel. K. F. em Atkinson, Atkinson, Smith, Bem, & Nolen-Hoeksema, 2002; Davis & Lang, 2003; Frijda, 2008; Gazzaniga & Heatherton, 2005; Levenson, 1999). Ou seja, é um sentimento subjetivo, no qual ocorre uma alteração fisiológica e um comportamento manifesto, e assim observamos como a criança sente.

O primeiro contato com esse universo ocorre através das emoções básicas, que são alegria, raiva, surpresa, medo, aversão e tristeza. Essas emoções dão o contorno e propiciam o desenvolvimento para as emoções complexas que são: constrangimento, empatia, inveja. Essas emoções surgem em torno dos 18 meses aos 24 meses.

As emoções complexas necessitam da criança ter a concepção do eu interno para senti-las. É quando a criança que a princípio se chama pelo nome “O Gabriel quer comer” e ela passa a falar “Eu quero comer”, isso faz com que tenhamos a certeza de que ela sabe que é ela mesma em primeira pessoa. Ou seja, necessita que o cérebro da criança esteja mais maduro e mais desenvolvido para que ela sinta essas emoções, exigindo uma compreensão mais sofisticada do que as emoções básicas que têm uma base mais biológica, instintiva.

Essas emoções também demandam a autoconsciência, e somente por volta dos 3 anos as crianças já conseguiram adquirir conhecimento sobre os padrões, regras e conseguem também avaliar seus próprios pensamentos, planos, desejos e comportamento com relação àquilo que é socialmente aceito. Dessa forma, conseguem manifestar as emoções auto avaliadoras como orgulho, culpa e vergonha.

Quando é que as crianças começam a identificar as emoções nos outros?

Em torno dos 6 a 7 meses os bebês conseguem distinguir expressões faciais associadas a diferentes emoções e algumas emoções em si, como por exemplo eles conseguem diferenciar um rosto feliz de um rosto triste. Também, se adaptam as emoções dos adultos em seu entorno, por exemplo quando sorrimos para eles, eles normalmente tendem a devolver com um sorriso. Ou se estamos tristes e bravos, ele também pode demonstrar algo com esta emoção.

Os bebês quando estão em um lugar desconhecido tendem a olhar para a mãe ou para o pai, como forma de buscar pistas que os ajudem a interpretar essa situação, isto é chamado de referência social, ou seja, nós impulsionamos nossos pequenos a explorar ou não um ambiente ou objeto. Se ficamos mais receosos, a tendência é deste bebê interpretar que aquele ambiente ou objeto não deve ser explorado, tocado.

Por isso a importância de nos colocar abertos e interessados quando estamos brincando ou estimulando nossas crianças. Concluindo, a referência social demonstra que os bebês confiam nas emoções dos pais para ajudá-los a regular seu próprio comportamento.

Vamos pensar? Se eles tão pequenos percebem esses sentimentos, imagina quando crescem? É de suma importância conversar sobre os sentimentos, sejam deles ou os nossos também. Ajudá-los a entender esse universo que é tão difícil, para assim conseguirmos pensar a longo prazo quando eles forem adultos.

Controle das emoções

Pesquisadores do desenvolvimento infantil descobriram que o controle das emoções começa na fase do bebê. Inicia-se entre 4 e 6 meses uma forma simples de controlar suas emoções. Eles podem desviar o olhar ou até mesmo fechar os olhos quando sentem medo. Outra estratégia usada por eles é de se aproximar dos pais. Nós pais, damos a base para os relacionamentos socioemocionais.
Dessa forma, quando um bebê chora, o melhor a fazer é dar conforto, colo, carinho. Não estamos mimando ou ensinando errado e sim ajudando a criança a criar recursos internos para lidar com suas emoções e sentimentos.

Para refletir:

O que você pensa no futuro do seu filho? O que fazemos hoje tem impacto na formação de sua personalidade e em como ele irá encarar seus desafios, relações sociais, aprendizagem e outros fatores. Para que ele tenha sucesso, satisfação no que busca fazer a autorregulação emocional é muito importante. Por isso, temos que estudar, entender sobre as fases de desenvolvimento, sobre as emoções, sobre como me comunicar com meu filho para assim ajudá-lo a compreender o mundo e seus sentimentos.
​Pensando nisso deixo abaixo alguns livros que podem ajudar nesse caminho delicioso, desafiador e gratificante que é o maternar e paternar.

Referências bibliográficas:
MIGUEL. F. K. Psicologia das emoções: uma proposta integrativa para compreender a expressão emocional. Psico-USF, Bragança Paulista, v. 20, n. 1, p. 153-162, jan./abr. 2015.
KAIL. R. V. A criança: tradução Martins. C. S, São Paulo. Prentice Hall, 2004.
PAPALIA. D. E; OLDS. S.W; FELDMAN. R. D. Desenvolvimento humano; tradução Vercesi, C. F. M. P. (et. Al.). 10 ed. Porto Alegre; AMGH, 2010.

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